Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Université Laval, no Canadá, mostra que o consumo elevado de frutose — especialmente a adicionada a alimentos ultraprocessados — pode alterar a forma como o intestino processa a glicose, aumentando o risco de doenças como diabetes tipo 2 e fígado gorduroso.
A frutose é um tipo de açúcar encontrado naturalmente em frutas, mel e vegetais. No entanto, quando consumida em excesso por meio de produtos industrializados, pode interferir no controle da glicemia e levar ao acúmulo de gordura no fígado.
Durante a pesquisa, publicada na revista Molecular Metabolism, camundongos foram alimentados com uma dieta rica em frutose por sete semanas. Já nos primeiros dias, os cientistas notaram um aumento significativo na absorção de glicose pelo intestino — antes mesmo que surgissem sinais de intolerância à glicose. Ao final do estudo, os animais apresentaram glicemia alterada e sinais de esteatose hepática.
Os autores identificaram que esse efeito está ligado ao hormônio GLP-2, que estimula o crescimento da superfície intestinal e a absorção de nutrientes. Ao bloquear o receptor desse hormônio, foi possível impedir a absorção excessiva de glicose e evitar os efeitos metabólicos prejudiciais.
Segundo Fernando Forato Anhê, professor da Université Laval e líder do estudo, essa descoberta pode permitir o uso do intestino como um novo marcador precoce para o risco de diabetes. “O teste de absorção intestinal é simples, seguro e já disponível na prática clínica”, destaca o pesquisador.
Importante ressaltar: os efeitos negativos observados no estudo se referem à frutose adicionada, não à presente naturalmente nas frutas. Segundo os autores, frutas in natura são aliadas da saúde por conter fibras e nutrientes essenciais que auxiliam no equilíbrio intestinal.
O grupo agora pretende estudar formas de manipular o microbioma intestinal como estratégia para reduzir os impactos do consumo excessivo de frutose.